A restauração do altar e as oposições: um estudo sobre o livro de Esdras

 


O livro de Esdras tem como tema a reconstrução do templo em Israel. Contudo, num sentido metafórico, vemos que os elementos envolvidos nessa narrativa remetem à restauração da vida do ser humano que decide se voltar para Deus. A seguir vamos apresentar alguns ensinamentos sobre os capítulos 3 e 4.

O primeiro ponto a destacar no capítulo 3 é que o povo levou 7 meses para se acomodar em Judá e, após esse período, todo o povo se reuniu como um só homem (verso 1). É interessante essa expressão, pois ela revela unidade de propósito. Todos estavam reunidos com um único objetivo: reconstruir o templo em Jerusalém. Essa unidade do povo aponta para o propósito da igreja na terra: aqueles que se convertem ao evangelho passam a compor a igreja, o corpo de Cristo. E, mesmo que cada um tenha uma função distinta, todos se unem no único propósito de viver no centro da vontade de Deus. Imagine a cena da reconstrução do templo: uns faziam a limpeza, recolhendo os entulhos resultantes da destruição; outros carregavam madeira, pedra e outros materiais necessários à reconstrução da cidade. Outros, ainda, faziam a segurança do local, pois as chances de haver um ataque de povos inimigos eram altas. Uns planejavam a obra; outros a executavam. Porém, todos estavam unidos com o mesmo objetivo de reconstruir o templo de Deus. O mesmo ocorre com a igreja: um auxilia o outro a reconstruir a sua vida com o Senhor. A igreja, portanto, é relevante no processo de restauração do indivíduo.

O segundo ponto que me chama a atenção neste texto é que o lugar onde eles começaram o processo de restauração foi o altar (verso 2). Para os judeus, o altar era o local mais importante porque nele se realizavam os holocaustos, ou seja, o altar era onde eles rendiam adoração a Deus. Aqui aprendo que, de todas as áreas da vida que precisam ser restauradas, a que deve ter prioridade é a adoração a Deus. Perceba que, antes de reconstruir qualquer outra parte, aqueles homens tiveram o cuidado de reconstruir o altar. Da mesma forma, antes de reparar qualquer relacionamento – seja com cônjuge, com filhos, com pais, com outros familiares, com amigos, com companheiros de trabalho – é preciso restaurar o nosso relacionamento com Deus. Se Deus não conduzir nossa vida, nada conseguiremos fazer com êxito. Em João 15.5, Jesus declara: “Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma”.

No processo de reconstrução do altar, identifico quatro pontos primordiais:

Em primeiro lugar, os judeus não agiram conforme o que lhes parecia melhor, mas segundo tudo o que estava escrito na lei de Moisés (verso 2). Não adianta querer buscar a Deus conforme os nossos parâmetros, do jeito que achamos ser o “certo”. Se não estiver de acordo com a Sua Palavra e Sua soberana vontade, de nada adianta. Em João 14:6, encontramos a seguinte declaração de Jesus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos nele morada”. (João 14:23).

Em segundo lugar, eles tinham medo do ataque de povos vizinhos, mas isso não os impediu de cumprir a vontade de Deus. Coragem não é ausência de medo, mas disposição para cumprir o propósito, apesar do medo. Precisamos lutar para que esse sentimento não nos paralise. Muitos “inimigos” podem nos intimidar, na tentativa de nos impedir de construir um relacionamento mais íntimo com Deus. O medo de ser rejeitado pelas pessoas, de cair em descrédito, de sofrer perseguição e tantas outras situações que surgem para provocar nossa desistência. Contudo, nada se compara à alegria de desfrutar da comunhão com o Pai e, na verdade, o próprio Deus nos proporciona amigos que nos auxiliam a permanecer nesse processo de reconstrução. Se você está passando por algum tipo de intimidação para abandonar este caminho de retorno a Deus, não desista! Creia que o Senhor está contigo! Una-se a pessoas que possam verdadeiramente ajudá-lo nesse processo. Creia, Deus envia pessoas para nos ajudar!

Em terceiro lugar, eles construíram o altar sobre uma base firme, a qual o sustentaria (verso 3). De igual forma, a nossa adoração deve ser construída sobre o fundamento da Palavra de Deus. Em Mateus 7:24-27, Jesus usa a figura da construção sobre a rocha para retratar a pessoa que vive conforme os princípios da Palavra:

Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha. Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda.

Em quarto lugar, vemos que, após o reparo, os sacrifícios eram oferecidos a Deus pela manhã e à tarde (verso 3). Essa frequência revela constância na adoração. Muitas vezes as preocupações com os afazeres do dia a dia nos afastam do que deveria ser o foco da nossa vida. Todo relacionamento requer tempo de qualidade. No casamento é assim. Com os filhos é assim. Com amigos também. Por que com Deus seria diferente? Precisamos nutrir nosso relacionamento com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo!

Ao meditar no capítulo 4 do livro de Esdras, vemos como se estabeleceu a oposição à obra de reconstrução. A Bíblia diz que alguns inimigos de Judá e de Benjamim se levantaram (verso 1). Conosco não é diferente: o inimigo se levanta para tentar paralisar o processo de reconstrução da nossa comunhão com Deus e, para tanto, ele usa algumas estratégias.

A primeira estratégia é a aparência do bem. Interessante ver que, inicialmente, os inimigos se apresentaram como “amigos”, oferecendo ajuda (verso 2). Eles se apresentaram como adoradores de Deus, ou seja, mentiram para enganá-los! Aqueles que se opõem à obra de Deus em nossas vidas se apresentam como “amigos” para nos enganar, para nos desviar do nosso propósito. É preciso ter cuidado com a aparência de bondade! O texto diz que Zorobabel não aceitou a ajuda daqueles homens. É preciso buscar discernimento de Deus para saber com quais companhias devemos andar. Pense um pouco: quantas pessoas você conhece que abandonaram a fé por influência de “amizades”?

A segunda estratégia é o desânimo. No verso 4, vemos que a gente daquela terra começou a desanimar e a atemorizar o povo de Judá, de modo que eles desistissem da reconstrução do templo. Também subornaram alguns funcionários para fazerem oposição e frustrassem os planos dos judeus (verso 5). E você acha que conosco é diferente? A estratégia é a mesma, pois o diabo usa pessoas para nos desanimar, dizendo: “Ah, a vida com Deus é muito difícil!”, “Escolher viver para Jesus é jogar a vida fora!” e tantos outros conselhos que tentam nos desviar do nosso alvo.

Ao longo do texto, vemos que houve várias ações intencionais para paralisar o povo de Deus. A oposição se deu em vários momentos e durante muitos anos. Lemos que a oposição ocorreu durante todo o reinado de Ciro (verso 5); também apresentaram uma acusação no início do reinado de Xerxes (verso 6) e, por último, escreveram uma carta contra Jerusalém ao rei Artaxerxes (verso 7-8). Nesta última carta, os acusadores inventaram calúnias, dizendo que os judeus não mais pagariam os impostos, reduzindo as rendas do rei (verso 13). A essa estratégia podemos chamar de acusação. Sendo infundadas ou até mesmo verdadeiras, as acusações são estratégias do inimigo para tentar parar a obra de reconstrução das nossas vidas. O fato é que, por meio dessa acusação, a obra de reconstrução foi interrompida por longos anos, até o segundo ano do reinado de Dario (verso 24). Entendo que esse tempo sem obras corresponde ao tempo do silêncio de Deus. Você já fez as seguintes perguntas: “Deus, cadê você? Não está vendo o que estou passando? Por que não me escuta?”. O silêncio não significa que Deus nos abandonou, mas este é o momento de provar nossa fé e confiança no Senhor. Crer quando se vê a saída não é fé, é constatação. Fé é crer no que ainda não se concretizou. Em Hebreus 11:1, lemos o seguinte: “Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos”. Aqueles judeus tinham a promessa da reconstrução da cidade de Jerusalém, e a ela se apegaram com fé, sem desistir. Portanto, mantenha sua confiança em Deus, que no tempo certo Ele indicará a solução. Permaneça com sua fé firmada em Deus e resista às acusações!

Para finalizar, perceba como até a disposição dos temas de cada capítulo tem importância. Primeiro o altar é reconstruído e depois vem a forte oposição. Quando temos nossa vida de adoração restaurada, nenhuma adversidade é capaz de nos desanimar ou de nos desviar do propósito para o qual fomos chamados pelo Senhor. Aqueles homens judeus não desistiram de reconstruir o templo. Da mesma forma, nós não vamos desistir de reconstruir nossa vida de adoração e comunhão com o Pai, amém? Não importa o quanto você está ferido, nem quantas dificuldades você está enfrentando, apenas creia no cuidado de Deus e na alegria que você pode desfrutar em Sua presença. Avante, sigamos com a reconstrução!

 

 

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