E Jônatas fez um acordo de amizade com Davi, pois se tornara o melhor amigo de Davi
(1 Samuel 18:3)
A Bíblia é um livro de
relacionamentos. Sem dúvidas, Deus não criou o homem para viver isoladamente. Somos
seres relacionais e, por isso, as amizades são tão importantes nas nossas
vidas. Jesus resumiu toda a lei em apenas dois mandamentos: amar a Deus e amar
ao próximo (Marcos 12:28-31), ou seja, o Senhor valoriza o relacionamento
vertical (com Deus) e horizontal (com os homens).
É claro que devemos amar a todos,
mas há aqueles que são mais chegados a nós e participam mais intimamente das
nossas vidas: são os amigos. Mas, de fato, as chances de haver algum
desentendimento são maiores, justamente porque há um vínculo afetivo. Sendo
assim, como podemos preparar nossos corações para lidar com as amizades? Gostaria
de meditar com você sobre alguns princípios que encontrei na relação entre
Jônatas e Davi. Em 1 Samuel 18:3, está escrito que Jônatas fez um acordo de
amizade com Davi, ou seja, uma aliança. Ambos assumiram um compromisso de
lealdade. Analisando as atitudes de Jônatas, pude extrair quatro princípios
para uma amizade saudável:
Em primeiro lugar, Jônatas desejou
ser amigo de Davi porque o admirava. Para entender melhor essa afirmação, é
preciso conhecer quem eram esses dois homens. Jônatas era filho do rei Saul;
portanto, um príncipe que lutava contra os inimigos do povo de Israel.
Certamente era um homem valente, que arriscava sua vida em batalhas perigosas.
Por sua vez, Davi era um jovem pastor de ovelhas, temente ao Senhor. Não era
integrante do exército, mas com certeza era dotado de coragem, pois já havia
vencido um urso e um leão para salvar o rebanho. Quando soube que havia um
guerreiro filisteu afrontando o exército de Deus, o rapaz se disponibilizou
para lutar. Embora não tivesse habilidade em batalhas, Davi foi valente para
resolver aquela situação. Ele tinha convicção de que o Senhor o abençoaria,
porque Golias estava afrontando o próprio Deus e, para Davi, isso era
inaceitável. Portanto, era um homem decidido a honrar a Deus. De fato, Israel
foi vitorioso nessa batalha contra o gigante filisteu e, a partir desse dia, Davi
tornou-se um dos comandantes do exército.
Quero dizer com tudo isso que, ao
observar a atitude honrosa de Davi, Jônatas nutriu uma profunda admiração por ele.
O desejo de Davi em ver o exército livre da afronta do inimigo, aliado ao fato
de ele ter oferecido a sua própria vida para batalhar, certamente causou
surpresa e apreciação em Jônatas.
Diante disso, a primeira pergunta
que faço é a seguinte: quem tem sido alvo da nossa admiração? Que
características dos nossos amigos têm servido de inspiração para nós? Temos nos
aproximado daquelas pessoas que, com sua conduta de fé e empatia, influenciam
positivamente a nossa vida? Portanto, entendo que um bom amigo deve ter uma
conduta inspiradora; deve ser um exemplo de fé em Deus, independentemente das
circunstâncias – favoráveis ou não. Não estou falando em ser alguém perfeito,
imune aos erros, tampouco em fazer todas as nossas vontades, mas em ter um
coração sensível para perceber as necessidades à sua volta e fazer algo em prol
dos outros. Com certeza, Davi não era um jovem egocêntrico, mas alguém que se
importava com os sentimentos daqueles que o cercavam: “Davi disse a Saul:
"Ninguém deve ficar com o coração abatido por causa desse filisteu; teu
servo irá e lutará com ele" (1 Samuel 17:32). Em suma, Jônatas admirou
o amor ao Senhor, a coragem, a compaixão e o desprendimento de Davi, e por isso
desejou ser seu amigo. E nós? Temos influenciado positivamente na vida das pessoas, levando-as para mais perto do Pai?
Em segundo lugar, Jônatas
decidiu honrar Davi: “Jônatas tirou o manto que estava vestindo e deu-o
a Davi, junto com sua túnica, e até sua espada, seu arco e seu cinturão” (1
Samuel 18:4)
O texto acima diz que Jônatas deu
a Davi o manto, a túnica, a espada, o arco e o cinturão. Todos esses objetos
eram importantes na vida de Jônatas, mas ele decidiu abrir mão para honrar o
seu amigo. O manto e a túnica que Jônatas usava eram diferenciados por serem
elementos do vestuário real. Ao entregá-los a Davi, Jônatas está dizendo que a
sua posição social não interferiria no seu trato com o amigo. Não importava se
Jônatas era um príncipe e Davi um simples pastor de ovelhas, agora soldado do
exército do seu pai. Para Jônatas, a amizade estava acima de qualquer diferença
social. Já a espada, o arco e o cinturão eram elementos que compunham a
armadura de guerra. Ao entregá-los a Davi, Jônatas o reconhecia como um
guerreiro valoroso e o honrava diante de todo o exército. Mas perceba algo
muito interessante: apenas Jônatas presenteou Davi, este não lhe deu
absolutamente nada (leia o capítulo 18 para você entender).
A atitude de Jônatas é contrária ao que geralmente acontece: muitas vezes esperamos ser honrados pelos
nossos amigos, quando na verdade a nossa intenção deveria ser de honrar sem
esperar nada em troca. Na sequência do capítulo 18 de 1 Samuel, vemos que
Jônatas deu ao seu amigo objetos valiosos, mas Davi não lhe deu nada – pelo
menos não naquele momento. Frequentemente criamos expectativas de receber honra
e reconhecimento na hora que pré-determinamos. No entanto, deveríamos comprometer-nos
em abençoar, mas sem cobrar retribuições, assim como fez Jônatas.
Em 1 Coríntios 13, o aposto Paulo
ressalta que o amor está acima de qualquer desejo de reconhecimento: “O amor é
paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não
maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda
rancor”. (1 Coríntios 13:4-5). Agora, reflita: como temos agido em relação aos
nossos amigos? Veja que a responsabilidade é muito mais nossa do que dos outros.
O próprio Mestre nos deu o
exemplo de amar sem esperar algo em troca. Em João 15:13, o Senhor declara:
“Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida pelos seus amigos”.
Jesus falava com os discípulos, os mesmos que depois o abandonariam quando ele
mais precisaria. Jesus falava para nós, que muitas vezes o negamos com nossa
falta de fé e imediatismo. Muitas vezes achamos que, por oferecer a Deus um dia
da semana ou uma oração, o Senhor tem a obrigação de realizar nossos desejos,
como se fosse um gênio da lâmpada. E quando a nossa vontade não é feita, muitas
vezes ficamos indignados e frustrados. Nós replicamos a mesma relação de
cobrança mantida com o próximo na nossa relação com Deus. Concluindo, eu diria
o seguinte: faça o que estiver ao seu alcance para abençoar o seu amigo, mas
não fique cobrando uma retribuição. Lembre-se de que não é no seu tempo; se
essa pessoa realmente for sua amiga, em algum momento ela também o honrará.
Em terceiro lugar, Jônatas aconselhou
e protegeu Davi. No trecho a seguir, vemos claramente a intenção de Jônatas
em livrar Davi das mãos de Saul, que desejava matá-lo.
Saul falou a seu filho Jônatas e a
todos os seus conselheiros sobre a sua intenção de matar Davi. Jônatas, porém,
gostava muito de Davi e o alertou: "Meu pai, está procurando uma
oportunidade para matá-lo. Tenha cuidado amanhã cedo. Vá para um esconderijo e
fique por lá. Sairei e ficarei com meu pai no campo onde você estiver. Falarei
a ele sobre você e, depois, contarei a você o que eu descobrir" (1 Samuel
19:1-3).
Ao saber do perigo pelo qual seu
amigo passava, Jônatas aconselhou Davi a procurar um esconderijo. Dessa forma,
um bom amigo procura dar bons conselhos, a fim de que o outro não caia nas
ciladas do maligno. Era comum os homens se abrigarem em cavernas para fugir de
uma situação perigosa. Aquele conselho traria um certo desconforto para Davi,
mas salvaria a sua vida. De igual forma, muitas vezes precisamos dar conselhos
que visem ao bem-estar do amigo, ainda que aparentemente não seja muito bom. Aquele
que ama o amigo deseja mantê-lo longe dos ataques do inimigo.
Em último lugar, Jônatas
defendeu Davi.
Jônatas falou bem de Davi a Saul, seu
pai, e lhe disse: "Que o rei não faça mal a seu servo Davi; ele não lhe
fez mal nenhum. Ao contrário, o que ele fez trouxe grandes benefícios ao rei.
Ele arriscou a vida quando matou o filisteu. O Senhor trouxe grande vitória para
todo o Israel; tu mesmo viste tudo e ficaste contente. Por que, então, farias
mal a um inocente como Davi, matando-o sem motivo?’” (1 Samuel 19:4,5)
Jônatas não apenas aconselhou
Davi a se esconder, mas também pôs em risco a sua própria vida para defendê-lo.
Saul era o pai de Jônatas, mas também era o rei e, como estava possuído de ódio
por Davi, ele poderia intentar algum mal sobre Jônatas. No entanto, Jônatas não
se deteve diante da possível retaliação e apresentou argumentos em defesa do
seu amigo. Um amigo de verdade é aquele que, quando o outro é caluniado
injustamente, ele se levanta para defendê-lo, ainda que corra o risco de sofrer
algum dano. Um amigo de verdade é aquele que defende o outro por meio da oração
intercessória.
A partir do que foi exposto,
creio que algumas reflexões devem ser suscitadas: Eu tenho sido um referencial
de fé e esperança, inspirando meus amigos a terem plena confiança no Senhor? Eu
tenho desejado ser amiga de pessoas que me aproximam de Deus e me encorajam a
viver os meus sonhos, segundo o propósito que Deus designou para mim? Tenho o
compromisso de honrar, proteger e defender os meus amigos?
Confesso que escrever esta
mensagem não foi nada fácil. Que o primeiro passo seja reconhecer o que não
está bom em nós para, então, abrirmos o coração, de modo que que a mudança aconteça.
Que excelente mensagem!
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