De volta para casa: o retorno ao lugar de descanso


Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti (Lucas 15.18)



Quem não gosta de tirar um tempo da sua rotina para viajar e conhecer outros lugares? Inicialmente, ficamos muito animados com as novidades, mas, no decorrer da viagem, começamos a sentir saudades de casa. Ela representa o nosso lugar de segurança. Quero usar este exemplo para retratar uma realidade espiritual: há um “lugar” de onde o homem jamais deveria sair, que é a presença de Deus, o local de intimidade com o Pai. Ainda que existam outros “lugares” aparentemente agradáveis, que tentam atrair a nossa atenção, somente em Deus encontramos perfeita paz para viver.

Essa necessidade de regressar ao lugar de intimidade com Deus me remete ao texto de Lucas 15, a história do filho pródigo. O filho mais novo, por decisão própria, saiu da casa do Pai e partiu para o mundo, a fim de experimentar as distrações da vida. Inicialmente ele estava se sentindo feliz, mas, com o passar do tempo, os recursos acabaram e ele passou a sentir falta de casa. O envolvimento com as distrações deste mundo nos conduz a um lugar de tristeza, dor e solidão, o qual nos faz sentir saudade do Pai. Os prazeres deste mundo são finitos e não satisfazem o vazio do coração, mas a alegria proporcionada pela presença de Deus é plena, não se acaba.

Sabemos que a verdadeira alegria encontramos na presença de Deus, mas às vezes algumas decisões erradas nos conduzem para fora de casa. O texto diz que o filho mais novo pediu ao pai a parte da sua herança e decidiu partir para uma terra bem distante, onde desperdiçou todos os recursos que tinha. Se decidimos nos afastar de Deus, Ele não nos impede. O Senhor respeita a decisão de cada um e permite que nos afastemos, embora não se sinta feliz.  Há, ainda, uma outra implicação: aquele jovem reivindica a sua parte da herança com o pai ainda vivo, o que sugere total desprezo; é como se o filho desejasse a morte do pai. Muitos decidem se afastar de Deus porque não o consideram como um Pai vivo e acabam desprezando o Seu amor. Muitos recebem as bênçãos (a herança) e se apartam de Deus.

Aquele filho, então, saiu pelo mundo gastando todos os seus recursos financeiros. Imagino que, enquanto tinha dinheiro, ele se divertiu com tudo o que o mundo poderia oferecer, até os recursos acabarem. Na vida distante de Deus é assim: você pode até ter alegrias momentâneas, mas chegará a hora em que sofrerá as consequências das suas escolhas. Na casa do pai aquele jovem nunca havia passado necessidade. Lá ele nunca havia cuidado de porcos (o que era humilhante para um judeu, pois o porco era considerado um animal imundo). Isso significa que estar longe da presença de Deus abre precedentes para vivermos circunstâncias extremamente difíceis, que certamente não passaríamos se estivéssemos sob os cuidados do Pai celestial. Claro que o cristão passa por dificuldades, mesmo em comunhão com Deus, mas em Cristo somos mais que vencedores, pois temos a certeza do socorro do Pai celestial.

Em meio àquela situação tão adversa, o jovem “caiu em si" (v.17), ou seja, reconheceu a sua condição miserável e lembrou que na casa do Pai nada lhe faltava. De igual forma, quando estamos distantes de Deus ficamos famintos, fracos, derrotados; mas na sua presença há fartura de alegria e paz, temos nossas necessidades espirituais supridas.

Eu creio que muitas pessoas chegam a essa fase de reconhecimento da sua atual condição e da necessidade de se voltar para Deus. No entanto, muitas não tomam essa decisão por não se sentirem dignas de regressar para este lugar que desde o início o Senhor preparou para o ser humano. A vontade do Pai sempre foi que o homem vivesse em intimidade com Ele. Desde o Éden. Mas a decisão de retornar à casa, ao local de comunhão, é do homem, não é de Deus. No caso do filho pródigo, vemos que ele tomou essa decisão: “Eu me porei a caminho e voltarei para meu pai, e lhe direi: Pai, pequei contra o céu e contra ti" (v.18).

Arrependido, o jovem decidiu ir ao encontro do pai. Ele venceu todos os sentimentos negativos que o acorrentavam e retornou para casa, mesmo não esperando um bom tratamento. De igual forma, muitas vezes precisamos romper com as vozes da acusação e do medo e correr para os braços do nosso Pai celestial.

Aquele jovem não imaginava o que o aguardava. Em seus planos, ele apenas pediria uma vaga de emprego, pois sabia que não tinha direito a nada. Ele havia gastado toda a sua herança. Então, na concepção dele, só lhe restava pedir ajuda ao pai porque sabia que era um homem bom. Da mesma forma, recorremos a Deus porque Ele é misericordioso, mas sabemos que não somos merecedores do seu favor. No entanto, Deus nos surpreende com o seu cuidado e faz além do que esperamos. 

O texto de Lucas diz que o pai avistou o filho quando ainda estava distante (v.20). Isso revela que o Pai aguardava o seu retorno. Ele o esperava. Mas não apenas isso: ao vê-lo, o pai correu em sua direção (o que era considerado humilhante para um patriarca judeu). Ele rompeu com os paradigmas sociais por amor e pela alegria de ver aquele filho perdido retornando para o lar. Essa é a expectativa de Deus quando retornamos à Sua presença! O Pai corre ao nosso encontro!

Interessante observar que o pai, em nenhum momento, pediu prestação de contas ao filho. Não questionou o porquê de ter gastado todo o dinheiro da herança. Deus age de modo semelhante, pois não lança em rosto os erros cometidos no passado; mas nos acolhe quando nos achegamos a ele com um coração arrependido.

Conforme o texto, o pai não apenas o recebe, mas também troca as suas vestes e lhe põe um anel no dedo. De igual modo, Deus restituiu a aliança e purificou a nossa vida. A Bíblia diz que há festa no céu quando um pecador se arrepende.

Podemos concluir que o melhor lugar para estar é na presença de Deus. Que eu nunca me afaste deste lugar de alegria! Se você estiver longe de Deus, saiba que Ele está esperando seu retorno para casa.




Adriana Pessanha



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