A necessidade de esvaziar-se: a lógica do Reino é oposta à lógica do mundo


Tenham entre vocês o mesmo modo de pensar de Cristo Jesus, Filipenses 2:5


Sem dúvida, vivemos dias contraditórios. Em tempos de globalização, nunca estivemos tão interligados, o que revela uma interdependência; contudo, o discurso predominante no mundo é “você precisa conquistar o seu espaço”, “você precisa ser independente”. E nessa busca incessante de ser alguém proeminente, nos isolamos na intenção de sermos melhores em nosso desempenho diante da sociedade. Influenciados por essa ideologia, queremos ser os melhores na vida profissional, nos círculos de amizade, na família e até mesmo na igreja. Nada contra a desejar cumprir suas atividades com excelência, mas o problema é quando nos julgamos os únicos capazes de realizar tal tarefa. Muitas vezes estamos tão cheios de orgulho, que isso atrapalha o nosso relacionamento com Deus e com o nosso próximo.

O texto de Filipenses 2.1-8 trata sobre humildade, tendo como exemplo o Senhor Jesus. O apóstolo Paulo exorta para que sejamos humildes, de forma que nossas ações não sejam movidas por interesse pessoal ou para impressionar alguém, mas visando também os interesses dos outros: "Nada façam por ambição egoísta ou por vaidade, mas humildemente considerem os outros superiores a si mesmos. Cada um cuide, não somente dos seus interesses, mas também dos interesses dos outros" (Fp 2.3-4). A ambição egoísta corresponde ao desejo de alcançar um objetivo que visa apenas ao benefício próprio; já a vaidade é o desejo de engrandecimento, vanglória. Ora, se Paulo estava alertando os irmãos daquela igreja a serem humildes, é porque havia no seu meio pessoas orgulhosas, vaidosas ou egoístas.

O pecado que corrompeu a humanidade foi exatamente o orgulho. Na verdade, este é o pecado pelo qual o próprio satanás se corrompeu[1]. E foi com esse mesmo pecado que ele tentou a mulher no Éden, ao dizer que ela seria como Deus: "Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus, conhecedores do bem e do mal. (Gn 3.4-5). A mulher desprezou todas as dádivas do Pai, toda a liberdade que desfrutava no jardim, e se apegou à possibilidade de ter o mesmo conhecimento de Deus. Repare o verso 6: "Quando a mulher viu que a árvore era parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também". A mulher viu que a árvore era agradável, atraente, desejável; ou seja, satanás a tentou e ela consentiu ao desejar ser igual a Deus. 

Ao ler os evangelhos, vemos que entre os discípulos também existia esse sentimento de vaidade, o que justifica as disputas entre eles para saber quem era o mais importante. Em Marcos 9.33-34, temos o seguinte registro: "E chegaram a Cafarnaum. Quando ele (Jesus) estava em casa, perguntou-lhes: 'O que vocês estavam discutindo no caminho? mas eles guardaram silêncio, porque no caminho haviam discutido sobre quem era o maior". Em Mateus 18.3-4, acerca do mesmo acontecimento, vemos a seguinte resposta de Jesus: “Eu lhes digo a verdade: a menos que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Quem se torna humilde como esta criança é o maior no Reino dos céus”. O Mestre estava ensinando que eles precisavam mudar de atitude, “converter-se”, pois considerar-se mais importante que os outros não é a lógica do Reino dos céus. As disputas por cargos ou por posicionamento em nada glorificam o nome do Senhor. Dessa forma, Jesus os instrui a abandonarem a vaidade (o desejo de serem superiores) e a adotarem a humildade, característica presente nas crianças.

Na contramão desse discurso egocêntrico, Jesus ensina que o maior é exatamente o menor no Reino, ou seja, aquele que se dispõe a servir ao próximo. No sermão do Monte, Jesus também deixou claro que o Reino dos céus pertence aos que forem humildes[2].

O discurso de Jesus não era vazio, pois ele deu exemplo com a sua própria vida! O Senhor tinha todos os atributos para se orgulhar: simplesmente era o Filho de Deus! Ele poderia ter sido vaidoso devido à sua posição de Filho e único Salvador, mas, ao contrário, ele escolheu ser humilde e assumiu o papel de servo. Além disso, Jesus deixou a sua glória – de forma voluntariosa – e veio a este mundo como homem – sujeito às mesmas tentações que nós. Está claro que Jesus não fez isso buscando o seu próprio interesse, mas ele se esvaziou da sua glória por amor. E não apenas isso, mas por amor a uma humanidade que, em sua maioria, o rejeitaria como Filho de Deus. De fato, o que vemos é que Jesus decidiu viver o propósito estabelecido pelo Pai e, portanto, seu olhar não estava voltado para a satisfação dos seus desejos humanos, mas sim para o cumprimento do plano de Deus.


Pai, ajuda-me nas minhas fraquezas! Eu não quero que o orgulho domine a minha vida, mas quero me esvaziar de todo o sentimento que me afasta de Ti. Eu me arrependo do pecado da vaidade e peço que seja purificada com as águas que correm do Teu Trono. Enche-me com o Teu Santo Espírito para cumprir os Teus propósitos, para a Tua glória!

Adriana Pessanha




[1] “Seu coração tornou-se orgulhoso por causa da sua beleza, e você corrompeu a sua sabedoria por causa do seu esplendor. Por isso eu o atirei à terra; fiz de você um espetáculo para os reis” (Ezequiel 28:17).
[2] “Bem-aventurados os humildes, pois eles receberão a terra por herança” (Mt 5.5).
[3] Uma voz clama: "No deserto preparem o caminho para o Senhor; façam no deserto um caminho reto para o nosso Deus (Isaías 40:3).

Comentários

  1. Sábio entendimento passado.
    Amo Jesus pois Ele olhou para o plano rejeitando as circunstâncias.
    Parabéns Adriana pelo trabalho!

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  2. Profunda reflexão Deus abençoe

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  3. Que o Senhor continue te abençoando e te usando, belas reflexões irmã Adriana!

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  4. Ótima reflexão. Precisamos nos esvaziar de toda vaidade de tudo que nos empede de seguir o alvo que é a eternidade o céu , Jesus. E nos enchermos de tudo que provêm de Deus!!!
    Parabéns irmã Adriana🙏😘👐🙌😍

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